Ponto & Vírgula: The Story

The Story






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Dizem que quando vestimos as nossas falhas, quando verdadeiramente as assumimos, ninguém as pode usar contra nós - porque também nós não vivemos de costas para nós mesmos.
Dizem que vestir as nossas falhas é sinal de que as começámos a compreender, a acarinhar, a cuidar, a amar - Este é o grande amor que descobri quando achava que o amor era uma invenção.
Esta é a história de como, um dia, passei a viver de frente para mim mesma e para as minhas falhas.
E viver de frente para mim mesma e para as minhas falhas foi também viver de frente para o lugar sombra que, não carregando apenas em mim, carregava nas costas.

Aos 17 anos foi diagnosticado um esgotamento nervoso. Aos 18 um distúrbio de ansiedade. Aos 19, distúrbio de pânico. Passei por sertralina, paroxetina, fluoxetina. Passei por alprazolam, victam, valdispert. E cada vez que passava de um para o outro ficava menos de quem era: a sensação sempre presente de cansaço, a falta de encantamento que tudo tinha, a certeza de que toda a cadeia de ações ao meu redor se passavam muito longe de mim e nunca me tocavam.
Chorei noites seguidas, pedi por favor para adormecer, implorei aos meus pais vezes e vezes sem fim para fazerem todos os sintomas desaparecer. Desesperei ao ponto de não sentir mais desespero algum. E caí de tal forma que dali só podia voltar a levantar-me.

Esta é a história de como eu não aceitei a história que me queriam contar. A história de como um dia me cansei de contar a mim mesma que a vida era apenas para aguentar e que não existia nada que pudesse fazer. - Foi aos 23 anos que me cansei. É aos 24, agora, que já não dói e vos posso contar desta história que, acredito, não seja só minha, mas de milhares de rostos silenciosos que reconheço num olhar.

É aos 24, hoje, que vos quero dizer que não há uma só coisa impossível de se fazer e que a força humana é tão ilimitada quanto consigamos pensar. Há dias em que ainda me surpreendo, há outros em que confio muito e já sem medo de que não há nada que não possa ser feito.

E eu fiz. Há cerca de um ano eu tomei a melhor decisão que podia ter tomado - após uma tarde nas urgências com um ataque de pânico derivado da alteração, mais uma vez, da medicação, eu decidi que não ia tomar mais medicação nenhuma. Não ia voltar a submeter-me aos sintomas apenas para ter um ligeiro alívio. Uma solução temporária - não. O que eu ia fazer era ser forte por mim e aprender a viver comigo e com tudo o que era - até com as falhas.
E foi a partir daí que a história se estendeu a um exercício físico regular, a uma alimentação equilibrada e a muitos dias de respirar fundo e controlar o pânico.
A muitos dias que geraram um ano. Um ano sem qualquer medicação e com diminuídos sintomas.

É desse ano, desses anos, dessa decisão que vos quero contar. É essa história da qual tenho para vos dizer a coragem e os dias pesados, o entusiasmo e o recalcular rotas.

Dizem que quando vestimos as nossas falhas ninguém as pode usar contra nós - nem mesmo nós mesmos.

Esta é a história de como eu aprendi a ser com as minhas falhas.


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